domingo, 5 de dezembro de 2010

Isso é a Guerra.

Há uma guerra sangrenta instalada nas ruas e só não vê quem não quer. Embora o sangue esteja por diversas vezes despido de seu vermelho característico, se pode sentir seu cheiro agridoce espalhado no ar juntamente com o medo, arma letal dessa guerra injusta. Muitas pessoas vagam sem destino, sem tempo para observar o céu doente, pintado de cinza-chumbo e os aromatizadores no interior de seus carros impedem que sintam o apodrecer dos corpos jogados ao chão, que elas só não enxergam porque estão ocupadas demais no ter, outra das artimanhas da Guerra.

Diante desse caos, a alternativa dos loucos é fugir ou se entregar à dominação. Pessoas vagam sem saber para onde ir, e sem parar um segundo para raciocinar o quão descartáveis formas de carbono são, e durarão menos do que as sacolas plásticas onde colecionam seu lixo.

E todo o lixo que se vende na TV e na internet, é o bastante para encher bilhões de cabeças com merda e mais merda. Numa armazenagem infinita do não-ser e investimento na afirmação dos estereótipos do bem-sucedido e do pode-tudo.

Enquanto a natureza continua a morrer.

O Homo Sapiens evoluiu para o Sapiens Sapiens, o ser humano como conhecemos (íamos). O próximo grande salto evolutivo só pode ser conseqüência da nanotecnologia e da inteligência artificial. Mas não é.

A natureza morre,

E nós caminhamos para o Desumano.

Sentado com meus livros e um pouco do bom vinho, me refugio na loucura, sei que deveria estar fazendo algo para combater, mas as forças são (eram) poucas diante da injustiça que existe em todos os sentidos.

E a música que ouço é triste.

Lá fora ouço crianças brincarem, alheias aos problemas ecológicos e sociais, e uma idosa procura utilizar o pouco que lhe resta de vida, observando o belo e tentando caminhar sobre as fracas pernas. Um casal apaixonado se abraça, quase imóvel. E dentro do meu peito sinto que ainda existe um meio de transformar para o bem.

Contra toda Guerra injusta existe uma campanha de resistência. Ainda que nasça silenciosa e escondida dentro dos protagonistas que não sabem ainda a importância de seu papel, e nem conhecem o timing de entrada.

O Amor é a nossa resistência.

O Amor.

Sempre o Amor.

domingo, 28 de novembro de 2010

Ossos

Por tantas vezes me vi preso

E sem direção pra seguir

Tantas quantas as que jamais fora capaz de contar

E o tempo passou,

E livre fiquei

No início ainda minha pele estava marcada.

Grilhões das eras de sofrimento

E o tempo curou

Agora sinto crescer ossos em minha alma

E são avessos aos que perfuravam meu coração

outrora

Ossos esses que me deixam mais forte.

Ora, que bobagem.

Não são ossos, e sim asas.

Hora de voar.

domingo, 31 de outubro de 2010

Versos Tolos

Ser poeta é viver num mundo incolor

Onde todas as cores são possíveis

Ser poeta é desejar além do que se pode ter

E ter, sem desejar

Muito mais do que se pode querer

Ser poeta é viver preso

Ser poeta é ser livre

É ter a alma abatida e tristonha

Ávida por voar, e satisfazer-se em alegria

É querer voar

É poder voar

Ser poeta é esquecer-se de muito do visto na vida

E ter vivo o brilho de certos olhos castanhos

É ser escravo de si mesmo

Sem perceber-se alforriado

Ser poeta é sofrer a dor dos outros

Na esperança de compreender as próprias dores

Num mundo sem fim, por mares e mares me perdi

No dia em que a vi parada em frente a mim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ocasional

O tempo passa.
A vida cala.
A gente aprende

a não mais chorar,
não sentir como outrora.
Não ferir

E a nunca duvidar
que a vida fala,
enquanto a gente cala.

Sempre procurando respostas.

Somos luzes estroboscópicas no céu de outono

luz início,

meio e fim.

Meu fim?

Tu.

E onde eu começo?

Não sei, talvez em ti.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Office Chart.

Pra uma bonita terça-feira acinzentada.

1. You're all I have (Snow Patrol)
2. 20 Girl (Suicide Social Club)
3. Under Pressure (Kill Hannah version)
4. Transdermal Celebration (Ween)
5. Music for a Nurse (Oceansize)
6. Apocalypse Please (Muse)
7. Hoppippolla (Sigur Ros)
8. We Looked Like Giants (Death Cab For Cutie)
9. Girl From Ipanema (Tom Jobim feat. Frank Sinatra)
10. Next Best Thing (Endeverafter)


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Canção de Amor

Acredito que todas as pessoas no mundo nascem com uma tarefa em comum, inconsciente: compor uma canção.

Parece absurdo crer nisso, principalmente sabendo que nem todos são músicos e que grandes Mestres compuseram obras que estão e ficarão registradas na memória da humanidade por muito tempo. Então por que “depreciar” a criação desses seres humanos, “rebaixando-os” ao nível de meros mortais, como eu e você?

Nem todos são músicos. Mentira.

As notas estão aí, soltas pelo ar, e cada um tem a missão, o direito e até mesmo o dever de compor a Canção que escolher e o brilho de um novo dia sempre nos impulsiona. É comum soltarmos, ao invés de linhas harmônicas bem trabalhadas palavras atravessadas, confusas. E aquele canto esganado, de garganta, nem sempre é o melhor que nós temos. Mas às vezes é só o que temos pra botar pra fora um pouco do que somos.

Algumas pessoas mentem para se promover, ou promover a quem as agrade. Falsidade e arrogância predominam no mundo em que vivemos, por isso, uma hora ou outra a gente acaba tendo que vestir uma roupa desajustada dessas, pra encarar situações não resolvidas em outros tempo por pura covardia, ou simplesmente para se defender e evitar a ruína.

No meio desse turbilhão de emoções, atitudes e sentimentos, diversas vezes me senti deslocado e até mesmo desacreditado. Quantas vezes quis uma passagem só de ida para o meu próprio mundo? Perdi as contas.

E foi aí que tomei consciência da minha tarefa e resolvi me dedicar a ela. Com toda a amargura que pude observar às voltas, desprendi-me dos temas complexos como política, economia e tantos outros etc. porque queria mais, muito mais. Foi aí que entrei pelo único caminho sem volta e me decidi por não pegar atalhos, apesar de estrada não ser das melhores.

O início foi um passeio agradável, como o de um observador e colecionador de borboletas. Depois vieram os pedregulhos, e vários tropeços. Mas sempre levantava a cabeça e olhava para o alto, pois é lá que estão as notas, flutuando. Por algumas vezes me deixei enganar, pensando que podia abandonar minha tarefa pois seria impossível terminar. Eram os dias nublados, e os trechos mais tortuosos da estrada, que me deixava no estado de letargia.

Outras pessoas transitam pela estrada na qual faço meu caminho, seguindo outras direções. E acontece algumas vezes de trocarmos notas, em busca de uma melodia mais cadenciada que muitas vezes não vem.

E a gente segue pela estrada, sempre com a sensação de que falta algo.

Faltava.

Guria, você é a Nota que completa a minha canção de amor.

*Tum-Soc-Tum-Pá

sexta-feira, 2 de julho de 2010

"A saudade quando bate, não se pode explicar
coração fica em silêncio, quase a ponto de parar."

Versos de um poema antigo, escrito para alguém que me marcou profundamente. No momento, o sentimento é real, e por uma gama de pessoas-lugares-situações. É a vida. Linda vida.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pulmões. Meus Pulmões.

Alergias e problemas respiratórios atrapalharam-me na infância. O diagnóstico veio cedo, e seguido da recomendação: "Bronquite asmática, ele deve praticar exercícios aeróbicos, principalmente natação, que estimula a expansão torácica, e passar o maior tempo possível ao ar livre, longe de poluição. Em casos extremos pode ser que precise utilizar a bombinha, combroncodilatador, o que pode causar certa sonolência depois de alguns minutos..."

E assim os anos foram passando entre chás caseiros preparados pela Vovó, e inalações nas madrugadas de crise. Não queríamos que me tornasse dependente de medicação. Entre a dor e o desespero de meus pequenos pulmões arfantes, havia também inconformismo, não entendia o fato de não conseguir respirar, mesmo com tanto oxigênio presente no ar. O funcionamento dos pulmões e a hematose, eu fui aprender alguns anos mais tarde.

A genética não se pode contestar, nem mesmo a natação conseguiu que eu passasse com sobra pela altura de 1,70m. Mas ainda assim, a mesma genética me favoreceu com certos atributos que não são difíceis de encontrar em meus familiares. juntamente com a determinação, a paixão pelo esporte me acendeu o peito por vários anos, e a lembrança do incentivo de meus avós na beira da piscina ou em algum rio durante nossos acampamentos carnavalescos continua latente em minha memória: “Nade mais rápido Dieguinho, lembre-se de bater os pés! Sincronia nos braços!”, óbvio que ouvia as palavras cortadas entre uma afundada de cabeça e outra. O passar dos anos fez com que meus pulmões se tornassem mais fortes, os ombros definiram-se. Tornara-me um adolescente “normal”. Aprendi a superar meus limites e lutar por aquilo que julgava necessário e valoroso. E assim tem sido a cada novo desafio.

Estou longe do lugar chamado Casa e das pessoas que amo, às vezes meus dias são pesados, sinto como se meu mundo fosse acabar. Contraditoriamente, é esse desespero que me fortalece, juntamente com a certeza de que irei voltar um dia. Mudado, pelas marcas da vida e do convívio com outros humanos. Posso sentir o vento em meu rosto, e ao longe ouço ainda as vozes de incentivo, na simplicidade de meus avós. Respiro. Inflo com força os pulmões calejados, e prossigo.


Só o que está morto não muda.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Perdas: diálogo entre X e Y

Desde que o mundo é mundo e os nossos ancestrais resolveram sair das cavernas e dar o pontapé inicial para que o termo “Sociedade” se tornasse algo digamos... mais “robusto” não só no conceito etimológico em si, mas na vivência em sociedade ou “associação amistosa” ocorrem fatos que quebram os paradigmas do “companheirismo” (do Latim, socius = companheiro), tornando algumas situações simplesmente insustentáveis, e provocando-nos ao breve retorno à instintos deveras “primitivos”.

X: Oi.

Y: Olá, como vai?

X: Não tão bem quanto eu suponho que você esteja, mas passo bem.

Y: Legal. C’est La vie.

X: Mas então me diga, ainda está com você?

Y: Não sei do que você está falando.

X: Eu procurei por toda a parte. Achei que nunca encontraria.

Y: Você está ficando doido, precisa se tratar. Não sei do que falas.

X: E depois de lutar muito pra obter, eu te entreguei. Você guardou?

Y: Tá, tá bom. Vou jogar teu brinquedo. E se eu tiver perdido?

X: Você não perderia assim, tão fácil. Me diz que guardou num local seguro...

Y: Não, eu não guardei. Entreguei ao primeiro transeunte bêbado, numa festa.

X: Como assim, numa festa? E tudo o que eu fiz pra conseguir? Hãn?

Y: Você está doente. É sério.

X: Você é quem está doente. Não entende...

Y: Se assim você pensa. Me diz, do que você fala?

X: Nada. Deixa pra lá. Vou embora.

Y: Tudo bem, tchau.

X: Não, eu falo. Só perguntava sobre o AMOR, que eu te entreguei.

Y: Você chama “aquilo” de AMOR? Tá de brincadeira comigo.

X: -

Y: Eu tive muitos parecidos com aquele, o seu devo ter jogado em algum cômodo mofado.

X: Imagino que não haja espaço pra guardar, te entendo.

Y: Entende nada. E o seu nem era o maior.

X: Mas era o melhor que eu pude, e foi verdadeiro.

Y: Verdade? Rá.

X: Mas me diz, você guardou ou não? E o nosso beijo secreto?

Y: Me deixe em paz.

X Mas...

Y: ME-DEIXE-EM-PAZ!

X: É isso mesmo o que você quer?

Y: Saia da minha vida, pra sempre.

X: Se é o que você quer, eu saio. Mas diga, é isso o que você quer?

Y: Sim. Não vou repetir.

X: Mas antes de eu ir, ao menos me diga...

Y: Dizer o que?

X: Diga que não passam de mentiras, quando dizem que o amor morreu.

“Se amas alguma coisa, deixe-a livre: Se voltar é porque a conquistou. Se não voltar, é porque jamais a tiveste...” (Richard Bach)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Insanidade


Suas mãos gentilmente tocaram minha carne nua. Eu pude sentir o cheiro fétido de álcool em sua respiração. Eu pulei nas suas costas, desatenta ao que estava por vir, conforme você me carregava pelo corredor, eu ria e te pedia pra correr mais, por brincadeira, segurando firme em seus ombros, e você me apertava as pernas, para não cair.

Quando você me deitou na cama e segurou meus pulsos, eu te olhei aterrorizada, o mesmo terror que vi em teus olhos.

Tentei de chutar para longe de mim.

O cheiro de sua respiração alcoolizada entrou por minhas narinas, preenchendo-me os pulmões. Você me deixou sufocada, subindo em cima de mim. Eu olhava à minha volta, em pânico e rapidamente disse: “A Anna está chorando”, você se distraiu, afrouxando a força que fazia para me segurar pelos pulsos. Eu te chutei deixando-o desequilibrado, em seguida tentei correr para fora do quarto, mas a porta estava trancada. Me escondi atrás da cortina, que você violentamente arrancou das paredes. Me olhou de cima a baixo, enquanto tirava o cinto. Eu chorei e implorei novamente, arrastando-me para o canto.

Você me pegou pelos cabelos e me jogou de volta para cima da cama.

Eu te deixei uma lágrima, com a esperança de que você pudesse parar.

Mas Deus não me mostrou misericórdia naquele fim de tarde de outono...

Você segurou meu pescoço com uma de suas mãos, enquanto a outra arrancava toda a roupa que cobria meu corpo, rebaixado a lixo. Eu perguntei “O que você está fazendo? Não era pra você fazer isso comigo!”. Com os olhos aterrorizadores, apenas deu um riso abafado e continuou me despindo.

Eu chorava continuamente, quando você me espremeu o pescoço, cortando completamente a minha respiração.

Eu pedi e pedi à Deus, mas ele não veio.

Eu me lembro da dor aguda que sentia, enquanto você me penetrava...

Então fui lentamente perdendo a consciência.

Nunca falo sobre aquele dia pavoroso.

Eu tentei, mas nada aconteceu...

Acho que você conseguiu aquilo que desejava.

E não! Ninguém suspeitaria da pequena criança inocente que eu me tornei, de novo.

E eles nunca irão.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mosaico

Espera no corredor frio. Mais um pouco de café, para se manter aquecido e suportar. Ou fingir. São onze dias, que mais lhe parecem a eternidade. Pensa nos papéis em cima da mesa, cartas nunca escritas. O mundo tornara-se grande demais para que pudesse ser notado. Busca forças, sabendo que não pode encontrar. O único momento em que se sente vivo, em meio ao caos que se instalou em sua mente comprometendo-lhe a sanidade, é o momento em que pode visualizar o Anjo.

E lá ele está. Imóvel. Respiração leve. Os olhos fechados,inspiram no observador uma sensação momentânea de paz e tranqüilidade. Somente momentânea, a sensação.

O Anjo sofre e Ele não sabe como agir, tem vontade de fugir, pra longe, mas não poderia abandoná-lo. Ele vê que os medicamentos poupam o Anjo de sentir dor e sente em não poder transmiti-la, a dor, para o seu próprio corpo. Pensa na injustiça, na intolerância. É o maior teste que ele já enfrentou em sua vida...

Uma cadeira ao canto do corredor serve-lhe de descanso confortável nas noites gélidas e insones. Pensa que talvez sua permanência naquele ambiente mórbido, o esteja tornando frio. Improvável, quando põe a mão sobre o peito sente que bate, terno e caloroso, um coração. O nível de exaustão a que seu corpo chegou, faz com que um simples recostar de cabeça o leve a adormecer. No intermédio de seu estado de consciência, o som dos passos no corredor funde-se com as imagens oníricas geradas por sua mente. O Anjo está sempre presente em seus sonhos. Sorrindo, pulam poças d’água. Ele reconhece o próprio reflexo numa delas, completamente diferente da face desgastada pelos acontecimentos recentes.

Sabe que não pode agüentar firme por muito tempo, o equilíbrio está prestes a ser abalado.

Espera.

Ele é um predestinado a superar. Ainda que por um instante, tem a sensação de que vive algo semelhante à uma promessa feita com os dedos cruzados: algo que está para acontecer e nunca acontece, um momento que está para chegar, mas nunca chega.

De mãos dadas com o Anjo, ouve uma melodia, que os conduz a um campo onde milhares de crianças correm, livres, pouco depois começam a voar, como borboletas. Toca uma flor que está entremeada nos cabelos do Anjo, revoltos pelo vento. Recebe um sorriso como resposta.

-Hey você! Acorde. É chegado o momento.

As imagens se desfazem...

Ele sabe que não tem volta. Mas ainda tem muito a perder.

California- Copeland

http://www.youtube.com/watch?v=obJNiSbj3m0

sábado, 3 de abril de 2010

Contradição.

Eu não acredito nas palavras, Acredito nos fatos,nas coisas e nas respostas. E então o que é o perdão se não um produto sem justificativa pelo uso?
E isso tudo é só um símbolo de que o passado não importa mais
E por isso eu não devia calar o meu pranto, essa lâmina continua afiada,e era eu que ainda não tinha observado tentando superar o mau gosto do meu sangue.

E as lágrimas assim vão sendo confiscadas...

Tudo através do produto, que continuam estagnadas nas pontas dos meus dedos e as minhas mãos não são capazes de superar o medo e não conseguem ver que a vida continua,

Sem esquecer, sem relevar, sem perdoar.


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Poema Sem Estética

As flores se rendendo a estação

bailam belas cores vestidas de luz

A Flor, inócua em seu botão

com um discreto sorriso, à loucura conduz

As flores encantam e recebem canto

Mas com o tempo se tornam triviais

A Flor, inconstante e enigmática é tanto

Que para não notá-la tem que estar cego demais:

As flores são exuberantes

A Flor é bela

As flores são voluptuosas

A flor é sutil

As flores terminado seu ciclo, secam e morrem

e não há florista que reclame sua custódia

A Flor causa ordem e desordem

Porém,

Vive para sempre, num campo do jardim da alma

Chamado memória.

Influência

Eu a conheci pela internet. E nossos mundos não são muito diferentes, estudávamos no mesmo colégio, provavelmente nos esbarramos pelos corredores algumas vezes. Depois ficamos amigos, e eu descobri que temos muito mais em comum do que eu imaginava, e apesar de pessoalmente nós termos conversado por poucos minutos, a presença dela é trirreal no meu dia-a-dia, e a admiração que tenho pela Andressa é ENORME. Eu gosto muito da maneira visceral como ela se expressa. Por isso, pedi pra ela escrever um texto ao seu estilo, que eu realmente pago pau.

Le Fabuleux Destin de Moi

“Não é o perfeito, mas o imperfeito, que precisa de amor.”

Oscar Wilde.

Ela gostava de observar de longe. Bem de longe, era como se ela fosse invisível... (Talvez outrem a fizera translúcida, apenas um semblante insosso no meio da multidão muda) E ela não era invisível realmente? Quiçá fosse, se não ela já estava muito perto disso. Observava por trás do livro que lia, no fundo da música que ouvia (escondida atrás da última nota perdida pelo ar), entre os rostos desconhecidos, por trás das lentes dos óculos... (Que pareciam portar alguma mágica, seus olhos brilhavam e enxergavam além) Talvez ela os usasse de tanto esforçar os olhinhos escuros para ver o que estava distante.

Ela gostava de roubar lembranças. Pequenas pedras em seu caminho, rançosas e sujas – e com um sopro, tirava suas imperfeições, pequenos grãos de areia e folhas – guardando a pedra no bolso. Em casa, guardaria em alguma gaveta, e quando abrisse, lembraria daquele lugar, momento, daquela imagem, recordação e textura que construíam uma espécie de imaginário particular, onde tudo era criado apenas por ela. Ás vezes usava essas mesmas pedras para fazer ricochetes na água. Era a Madrinha dos Abandonados; ela era a única que bem entendia aquela criança que brincava sozinha no balanço do parque, dando impulso com as próprias pernas. Ela ajudava os desconhecidos também, ás vezes ajudava uma dessas crianças a se balançar. Talvez ajudasse por medo de cair no esquecimento – ser lembrada como quem ajudou quem um dia já esteve só.

Ela gostava de imaginar situações. Tinha um ar alheado de tudo e de todos. Mal tinha noção de onde pisava. Um dia encontrou alguém e sentiu que eram parecidos, ela e ele. O ar alheado pode ser por estar pensando em alguém... Prefere imaginar com um ausente do que criar laços com os presentes. Ou talvez tudo faça para emendar a baralhada da vida dos outros. E a baralhada da vida dela, quem emenda? Ninguém. Talvez ela gostasse daquela vida baralhada. Isso se chama realidade, mas não é isso que ela deseja. Ela deseja alguém para emendar a sua vida também. Sem ti, as emoções de hoje seriam apenas a pele já morta das emoções do outrora. Ele a conhece? Claro que conhece. Desde sempre, nos sonhos.

E quando alguém pergunta: “Como anda a sua vida?”, a resposta é sempre a mesma. Mecânica, é como ela anda. O tempo passa, seu coração vai ficar doente e quebradiço, como os ossos do homem de vidro. Vá em frente, raios.
Um dia cor-de-laranja, para alguém segurar sua mão e sair para ver o sol. Ou a lua. É tudo o que ela quer.

[ Andressa M. ]

http://www.youtube.com/watch?v=dC5tRl2el2Q

Nota: Baseado em Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain. E em mim também.




quinta-feira, 25 de março de 2010

Somnium

Certa vez estava, eu atrasado no ponto quando um Velho se aproximou.
- Preciso lhe contar algo. Disse o velho.
Nunca antes o tinha visto. Assustado, relutei a princípio. Mas por respeito à sua aparência idosa, porém lúcida e saudável acabei cedendo e este começou sua prosa:

“Um rapaz chamado Sonho, nascido num pequeno planeta em qualquer lugar do Universo, estava insatisfeito e pensativo. Por pensar demais, passou a ter idéias incompreensíveis a seus conterrâneos. Todos do planeta quiseram matar o Sonho. Sendo este obrigado a fugir, vivendo desde então como um errante pelo Universo.
Em sua rota sem destino, deparou-se com uma intensa luz. Apaixonou-se ao primeiro vislumbrar e nem sequer quis saber o nome de sua amada. Logo, a moça o levou para conhecer seu planeta. Era incrível e aconchegante. Tanto que ele resolveu ficar por uns tempos.
Quando se está longe a saudade vem. Diferente não ocorreu com o jovem. Sentia falta do local onde estavam suas raízes, e sua amada ansiava por conhecer a terra natal do misterioso viajante.
Ele porém, receava em voltar à seu planeta, pois no fundo sabia que nada havia mudado. Nada. Estava decidido e passou noites inteiras elaborando e trabalhando em seu mais ambicioso projeto: construir um Novo Planeta, com um passado admirável, sem fome ou cicatrizes de guerras e doenças. Um lugar que pudesse chamar de casa, onde se pode ouvir o alegre som de crianças brincando e cachorros latindo.
Ao cabo de pouco tempo e muito trabalho o projeto era realidade. Satisfeito, levou sua amada para conhecer seu grande e bonito planeta de plástico. Esquecera porém, que sua amada por possuir grande luminosidade, abundava também em calor, e poucos minutos após chegarem ao belo planeta, o mesmo estava em ruínas. Sonho estava decepcionado.
-Sinto muito por seu planeta.
-A culpa foi minha.
Passaram dias viajando em silêncio até que o rapaz confessou à sua amada todos os seus medos e incertezas além da verdade sobre o planeta de plástico. Decidiram ir ao planeta onde nascera Sonho.
Quando chegaram, confirmaram-se os temores e a situação era mesmo caótica: um planeta cinzento e triste, com muita pressa de chegar a lugar nenhum, bombas explodiam em alguns locais, e em outros as pessoas choravam depois de tirarem suas máscaras coloridas com sorrisos pintados. Males se escondiam, seja na grande quantidade de lixo social gerada ou nos comuns engarrafamentos gigantescos.
Afetada pelo clima inconstante do planeta, sua amada sentiu-se fraca.
-Mesmo após todo esse tempo, você nunca quis saber meu nome. Por quê?
-Porque independente de como se chame, eu sei que você é aquilo que me completa.
-Meu nome é Coragem.
Houve silêncio, em meio aos arranha-céus e barulho da grande cidade, Sonho e Coragem se abraçaram chorando a mais pura lágrima já vertida sobre a Terra. Quando Sonho e Coragem desfalecem, nasce Esperança, sendo esta capaz de motivar a criação de um Novo Mundo a partir do existente.
Um Mundo onde o amor é capaz de se espalhar com a mesma força da violência no atual.”

Hipnotizado pela história do Velho, acabei fechando os olhos, sem notar que o mesmo havia ido embora deixando um de seus documentos caído. Curiosamente, numa parte estava escrito: PORQUE SEM ELE NÃO SE PODE VIVER.
Olhei o relógio. Perdera o ônibus.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A grande idéia

Saí de casa decidido naquela manhã de outono, o objetivo estava fixo em minha mente: quebrar o gelo e acabar com o tal orgulho, que eu jurava ser o que me mantinha de pé.
O plano? Coisa simples. Voltar ao nosso local secreto, o lugar onde nos beijamos pela primeira vez. E onde dissemos e prometemos um ao outro que ainda que...
Peguei meu saco de dormir e prontamente me coloquei em movimento.
No canto da praça, com uma foto em uma das mãos, no intervalo entre uma e outra carta que eu relia, pedia aos transeuntes:
-Ei! Se você vir essa garota, pode dizer a ela onde estou?
Algumas pessoas olhavam intrigadas. Outras se afastavam de mim, como se fosse um doente ou algo do tipo. Tantas outras tentaram me dar dinheiro, não entendiam que eu não estava falido e sim com o coração despedaçado. Eu sei que a minha idéia não faz nenhum sentido, mas como eu poderia prosseguir, se ainda a amo? E além do mais, é óbvio que se um dia ela acordasse e percebesse que sente a minha falta, o coração dela ia se perguntar por onde eu ando, eu estaria lá. Esperando no canto da praça.
Então o que fiz foi esperar.

Um dia um policial veio me dizer que eu não podia ficar aqui. Tenho consciência de que talvez seja ilegal, mas tenho que marcar território, e estou decidido a esperar, nem que seja por um dia, um mês, ou um ano. Sei que se ela mudasse de idéia, este seria o primeiro lugar a que ela viria, ainda que estivesse chovendo, ou até mesmo nevando.

Então os anos começaram a passar, e ela não veio. As pessoas começaram a questionar sarcasticamente a minha sanidade mental, ouvia coisas do tipo:
-Olha, não é o cara que está esperando pela "tal garota"?
-Poisé, não tem nenhum furo em seus sapatos, mas me parece que há um grande buraco em seu mundo.
Riam-se.

Foi quando decidi me mudar, e desde então moro aqui, sozinho. Na lua. Dentro do meu saco de dormir.

Grifando Palavras

Fui iniciado ao passatempo de juntar letras ainda cedo, com cerca de 4 anos conseguia ler algumas frases. Como não tinha idade para ir à pré-escola (que não sei como se chama hoje em dia) ficava em casa, brincando de adivinhar as palavras com minha mãe. Me interessei e comecei a ler de fato aos seis ou sete anos, quando meu pai começou a me dar várias revistas em quadrinhos, mangás e livros infantis. Ou nem tanto.
Desde sempre fui orientado a grifar as palavras que não conhecia, para uma posterior busca no majestoso “Aurélião”. Fato é, que tal atitude se tornou dispensável com o passar dos anos. Não deixei de grifar palavras, mas a consulta deixou de ser necessária, pois a própria vida me deu o significado de várias delas.
Dor. Saudade. Sofrimento. Alegria. Festa. Salário. Final de semana. Estudar...
São algumas das palavras, que parecem simples, mas que tem pouca significação e fazem quase nenhum sentido a uma criança de seis anos.

Penso que naquele tempo eu talvez fosse mais íntimo das palavras.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pensamento Desconexo

Quando tudo fica confuso eu esqueço de me perguntar quem sou. E saio pelas ruas, a passos curtos, sem destino. Despreocupado. Desesperado. Vejo em cada esquina um simpático não-retrato teu, como que se tua imagem fora tatuada em minha retina. Delírio.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Buraco

Inicialmente as pessoas deram pouca importância ao buraco. Um ou outro jovem casal apontava-o rindo, mas logo em seguida distraía-se com a corneta do sorveteiro ou uma briga entre cachorros.

Após as crianças começarem a desaparecer, foi que se começou a especular sobre a origem do buraco, em que circunstâncias surgira e o porque de ficar ali suspenso, imóvel no centro da praça, ao lado da santa.

Aos poucos a monocromia do buraco foi se transformando e dando lugar a cores ora intensas e vibrantes como a aurora ora sutis, porém pesadas como o céu de outono. Muito se comentava, mas era durante a noite que acontecia o grande espetáculo: luzes estroboscópicas partiam em direção ao céu, e melodias habilidosamente harmoniosas ecoavam ao vento, buscando os ouvidos da população do vilarejo, criando um ambiente etéreo. Multidões se reuniam para presenciar extasiadas o momento paralisante e encantador.

- Obra do demônio! É o fim dos tempos! Diziam algumas idosas beatas, indignadas com o comportamento de seus conterrâneos.

O buraco se tornou alvo de diversos estudos, o que resultou no surgimento de várias teorias a respeito de sua origem, e do objetivo de sua existência. Alguns diziam que o buraco viera da abóbada celeste, com ordem direta do Arcanjo Miguel, com a missão de unir os povos do planeta, neste início de milênio. Para outros se tratava de um artefato alienígena, instalado para mapear e modificar o DNA humano, criando uma raça de Superseres, consequentemente dominando o planeta.

A variedade de opiniões sobre o buraco alavancava discussões calorosas tanto entre populares, como entre especialistas. Coisas estranhas aconteciam. Dizem que, certa vez, foram ouvidos gritos seguidos de risos. Lembro-me de ter presenciado o dia em que uma revoada de abutres saiu de dentro do buraco, em direção ao céu, quando, ao atingir a estratosfera literalmente explodiram, causando uma chuva de sangue e penas negras. O sinistro espetáculo recebeu atenção da mídia regional. Movidas pela curiosidade, as pessoas passaram a promover excursões e peregrinações ao buraco. Alguns odiavam-no, outros temiam-no. Muitos o exaltavam, sobretudo nas épocas de chuva de níquel.

O vilarejo cresceu, se tornando uma metrópole mundialmente conhecida, destino certo nos pacotes de viagem. Com o tempo, não mais se falou no desaparecimento das crianças.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Guardanapo velho, em cima de um piano empoeirado.














Nossa Música
despertou
a letargia
do nada.

Viajou
o pensar,
tornou
o ontem
sinônimo
do hoje
na realidade
do sonhar.

Acordes
que bailam
lembranças
no ritmo
acelerado
do pulsar.

Saudades.

sábado, 13 de março de 2010

Untitled

She's walking down the street
there's nothing more to say
everything goes like a flash
there's pain in her eyes

And what about those flowers?
And what about that unexplainable love?
she's going to a hole

Someday you'll understand
c'us u're still young n will be fine
Sometimes you'll feel the pain
but it's just a warning
that you're still alive

Texto antigo, que estava lá no meu iPod.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fragmento Reticente nº I

Espera no corredor frio. Mais um pouco de café, para se manter aquecido e suportar. Ou fingir. São onze dias, que mais lhe parecem a eternidade. Pensa nos papéis em cima da mesa, cartas nunca escritas. O mundo tornara-se grande demais para que pudesse ser notado. Busca forças, sabendo que não pode encontrar. O único momento em que se sente vivo, em meio ao caos que se instalou em sua mente comprometendo-lhe a sanidade, é o momento em que pode visualizar o Anjo.

E lá ele está. Imóvel. Respiração leve. Os olhos fechados,inspiram no observador uma sensação momentânea de paz e tranqüilidade. Somente momentânea, a sensação.

O Anjo sofre e Ele não sabe como agir, tem vontade de fugir, pra longe, mas não poderia abandoná-lo. Ele vê que os medicamentos poupam o Anjo de sentir dor e sente em não poder transmiti-la, a dor, para o seu próprio corpo. Pensa na injustiça, na intolerância. É o maior teste que ele já enfrentou em sua vida...

(Fragmento nº I)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre dias nublados em pleno verão...

Espero uma ligação. Não me lembro de ter passado o meu número a ninguém, ainda assim fico apreensivo de que o telefone toque e eu esteja no chuveiro, ou algo do tipo. Quando caminho pelas ruas me sinto pequeno, diante da imponência de certos arranha-céus. As pessoas nem sempre parecem amigáveis, nem sempre se parecem pessoas. Pressa. São Paulo, a cidade que não pára. Ás vezes, no meio da rotina e do tempo que me consome sou eu quem pára na Grande Cidade. Me pego, descuidado e pouquíssimo preocupado, pensando...

Penso em confissões feitas debaixo de uma árvore, penso no beijo roubado e na tempestade que se aproximava. Penso em como éramos jovens, inocentes e porque não, perfeitos. O sentimento chamado SAUDADE começa a penetrar minha alma. A cidade não pode parar, me sinto um grão de poeira no olho de um furacão.

Me sinto forte.

Eu te verei novamente.

...ainda que somente em sonhos.

(não terminei porque, porque, porque...)

domingo, 31 de janeiro de 2010

Confuso... Ou não.

Há dias que venho dizendo que eu sou um caminhão carregado de saudade, dirigido na contramão e ainda por cima perdido no tempo..

A metáfora parece, a princípio exagerada e concebida de forma desesperada, pois qual seria o motorista que iria na contramão, transportando uma carga extremamente INFLAMÁVEL e numa estrada cuja extensão e destino ele desconhece?

O exagero é recorrente em minha personalidade, reconheço. A curiosidade, sempre me moveu até as fronteiras do exagero, no sentir e no pensar principalmente. O Carpe Diem pôde ser por algumas vezes traduzido como “sofrer intensamente” “entediar-me intensamente” ainda que por curtíssimos períodos. Quanto ao desespero, acho que não o conheço pessoalmente. Talvez a iminência dele tenha batido em minha porta algumas vezes, mas creio que nunca o desespero em si. Procuro ser racional. Mesmo que agindo e confiando cegamente nos instintos, no coração.

Não sei se há vantagem.

Ultimamente tenho passado pouco ou quase nenhum tempo em casa, ao chegar em casa, (geralmente só me dou conta disso nos finais de semana, ainda que lá esteja todos os dias) minhas coisas estão exatamente da maneira que foram deixadas sabe-se lá quando e a fina camada de poeira que cobre alguns móveis parece-me um sinal de boas vindas, como que alguém estivera esperando pelo meu retorno à consciência. Não me sinto sozinho. De verdade.

Eu ia e vinha...

Eu ia e vinha...
... e era lá que eu me perdia, no espaço entre teus lábios.

Um travessão e uma exclamação.