sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pulmões. Meus Pulmões.

Alergias e problemas respiratórios atrapalharam-me na infância. O diagnóstico veio cedo, e seguido da recomendação: "Bronquite asmática, ele deve praticar exercícios aeróbicos, principalmente natação, que estimula a expansão torácica, e passar o maior tempo possível ao ar livre, longe de poluição. Em casos extremos pode ser que precise utilizar a bombinha, combroncodilatador, o que pode causar certa sonolência depois de alguns minutos..."

E assim os anos foram passando entre chás caseiros preparados pela Vovó, e inalações nas madrugadas de crise. Não queríamos que me tornasse dependente de medicação. Entre a dor e o desespero de meus pequenos pulmões arfantes, havia também inconformismo, não entendia o fato de não conseguir respirar, mesmo com tanto oxigênio presente no ar. O funcionamento dos pulmões e a hematose, eu fui aprender alguns anos mais tarde.

A genética não se pode contestar, nem mesmo a natação conseguiu que eu passasse com sobra pela altura de 1,70m. Mas ainda assim, a mesma genética me favoreceu com certos atributos que não são difíceis de encontrar em meus familiares. juntamente com a determinação, a paixão pelo esporte me acendeu o peito por vários anos, e a lembrança do incentivo de meus avós na beira da piscina ou em algum rio durante nossos acampamentos carnavalescos continua latente em minha memória: “Nade mais rápido Dieguinho, lembre-se de bater os pés! Sincronia nos braços!”, óbvio que ouvia as palavras cortadas entre uma afundada de cabeça e outra. O passar dos anos fez com que meus pulmões se tornassem mais fortes, os ombros definiram-se. Tornara-me um adolescente “normal”. Aprendi a superar meus limites e lutar por aquilo que julgava necessário e valoroso. E assim tem sido a cada novo desafio.

Estou longe do lugar chamado Casa e das pessoas que amo, às vezes meus dias são pesados, sinto como se meu mundo fosse acabar. Contraditoriamente, é esse desespero que me fortalece, juntamente com a certeza de que irei voltar um dia. Mudado, pelas marcas da vida e do convívio com outros humanos. Posso sentir o vento em meu rosto, e ao longe ouço ainda as vozes de incentivo, na simplicidade de meus avós. Respiro. Inflo com força os pulmões calejados, e prossigo.


Só o que está morto não muda.

Eu ia e vinha...

Eu ia e vinha...
... e era lá que eu me perdia, no espaço entre teus lábios.

Um travessão e uma exclamação.