domingo, 19 de maio de 2013

*nota.


São Paulo, maio de 2013

Tenho dormido pouco. E bebido mais que de costume. E por costume, não entenda hábito ou frequência.

Leia intensidade.

Intensidade é a palavra que melhor poderia descrever minha simplória estadia nessa passagem efêmera pela condição humana. Do dia em que saí da proteção quente e úmida do ventre materno até meu estágio atual, trago vastas experiências intensas.

Ainda que a memória não seja o maior de meus atributos.

Relendo os parágrafos anteriores, minha descrição até o momento talvez te leve a crer que tenho tido problemas em gerenciar minhas reações ao etílico. Não me entenda mal. O prazer provocado pelas reações químicas do mesmo no organismo é inegável, e eu jamais seria hipócrita em dizer que não o aprecio.

“- Ah, a boa e velha sensação de acordar parecendo ter sido atingido na cabeça por uma bigorna da ACME!”

Porém, estou divagando e esse não é um texto sobre porres homéricos. É nada mais que uma nota, sobre meu estado de espirito. Como aquelas que as pessoas penduram na porta da geladeira e se esquecem de olhar.

Tenho me embebedado do clichê, do usual, do prazeroso. Sutil.  Minha boca tem encontrado doces lábios, e os meus lábios tem insistido em formar sorrisos discretos e silenciosos. Grande parte deles até internos, os sorrisos.

Sinto-me jovem.

Mesmo com o câncer de pensar demais me alardeando a todo o momento sobre o passar do tempo.

A questão é sobre como lidar com isso.

E eu não ligo por não saber. Lidar.


Eu, voltei.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Até mais, e obrigado pelos peixes!

Adeus?

Sabe-se que não sou desse tipo.

Então venho, em curtas palavras resumir o que está óbvio: já não tenho mais o que postar por aqui.

Ou tenho encontrado outras maneiras de extravasar meus desencontros.

Obrigado, e até logo...

sempre terminando com reticências...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quixote

Hoje a poesia, sempre latente em meus pensamentos não está aflorada. Tem dias que parecem feitos para não se encaixar. E por incrível que pareça esses não são os dias cinzentos sobre os quais falo sem pudor por diversíssimas vezes. Esses dias estranhos são dias medíocres.

Medíocre :
[Do lat. mediocre.]
Adj. 2 g.
1. V. mediano (3).
2. Sem relevo; comum, ordinário, vulgar, mediano, meão.

A mediocridade não tem explicação. É estática e dinâmica ao mesmo tempo. E em nenhum momento é produtiva. Também não é estagnação.

Penso que talvez esses originalmente não sejam dias medíocres, e sim os dias calmos. Aqueles em que a gente passa muito bem se estiver sentado de frente para o mar sabe?

O problema é quando o mar está ausente.

A agigantação cinza do concreto não se compara à magnitude do Gigante Azul, o verdadeiro, que é de calar qualquer um. E caraminholas leves surgem, já que o vaivém das ondas não está audível.

Esses são dias bons para arrumar o guarda-roupa da alma.

Hoje nada faz sentido, a não ser a certeza de tudo aquilo que venho sentindo.

Devotos do Amor ainda existem. Obrigado por ajudar a manter minha fé.

E mesmo que os dragões sejam apenas simples moinhos de vento, sigo em investida inocentemente desmedida. Eu quero chegar mais longe. Eu quero o mundo, a faca e o queijo.

Por hora, um afago me cai bem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Anos Luz.

Quando criança, além de marceneiro-escritor,doutor-rockstar e herói-delegado
eu queria ser astronauta.
Gostava de viajar pelo mundo, e principalmente para fora dele.
A ideia de ir à lua não era um pensamento fixo, já que um amigo tinha estado lá e resolvera voltar.
Sem mais, nem menos.

O que eu queria era saber se o mundo era mesmo tão pequeno visto lá de cima, porque assim sendo, eu talvez não fosse tão tampinha.

Li sobre Gagarin e Aldrin, e me imaginava fora dos limites da atmosfera (talvez lá não me faltasse o ar).
Conforme fui crescendo, abandonei tal ideia em detrimento de outras vontades que foram surgindo e partindo.
Assim como as pessoas que mais amei.

Bisavó, bisavô, pai, tios. Menina, pra sempre em meu coração, a maior amiga-canina que eu jamais vou ter.

Aprendi a andar de patins e a falar inglês, plantar milho, tocar guitarra, escrever poesia e colher milho.

Também fui aprendendo que nem tudo é como a gente quer, e que temos sim várias limitações.

E, tendo consciência dessas limitações, aprendi a ignorá-las. Os sonhos são muito maiores. E mais saborosos.
Dos castelos que moldei em minha infância, a princesa e o dragão não são peças de tabuleiro. E os amigos estão longe de serem coadjuvantes.

Agora estou numa nova empreitada.
Alguns duvidam, dizem que estou velho demais pra essas coisas e que não vale a pena.


Vou construir um forte!

Não quero me defender de nada,
mas preciso de uma estrutura reforçada.
Pra isso vou juntar:
pedra, papel, tesoura e fita adesiva
nada de remendo, lá vai ser tudo novo
e as calçadas cobertas de alegria de esquina a esquina.
Vou fazer um castelo de tangram e um canil de 10 alqueires!

Preciso de um pomar bem grande,
porque amigos por demais vou receber.
Pensei em chamar o local de Ilha de Páscoa, mas essa já existe.
E além do mais, nada por ali vai ser passageiro,

ainda que absolutamente tudo se renove o tempo inteiro.
como um sonho de criança.

"Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar"
(Oliver Wendell Holmes)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Necros.

Inicialmente queimava.

Ou era assim que eu sentia.

Nesses primeiros dias eu gritei e agonizei. Desesperado.

Em vão.

Senti minha pele ficar flácida e junto com os cabelos pouco a pouco se desvencilhar daquilo que chamo corpo. Ainda queimava, e doía. E eu só conseguia pensar nas duas crianças brincando no jardim.

E todas as escolhas que fiz, que de uma maneira ou outra me trariam à miséria. Meus pés doem e a essa altura acho que os globos oculares não se sustentam sobre as órbitas porque a cada hora o mundo parece mais escuro. Não é como nas noites de insônia, em que eu contava uma história e conforme eles adormeciam apagava as luzes para que dormissem em paz.

Aquela tarde bonita, a brisa do campo tocando levemente minha face. Julia estava deslumbrante. E eu lamuriando porque o sinal do 3G estava fora do ar e “precisava” responder alguns e-mails. Fui rude quando ela me ofereceu a geléia que preparara com tanto carinho na noite anterior.

O tempo todo no escritório, em meio a papéis e gente que eu julgava incompetente. Ocupado demais para ir às reuniões e festas na escola das crianças. Da minha sala imponente não vi Damien ser campeão de natação, ou se formar na faculdade. Na verdade só me dei conta de quanto tempo tinha perdido quando depois daquele maldito acidente vi meu filho desfigurado no necrotério.

Julie se foi por tristeza, cerca de dois anos depois. Os pais são feitos para morrer antes dos filhos. Clara juntamente com o marido Jonathan me dariam um neto.

Eu ainda era ocupado demais e a única pergunta que fiz foi sobre como eles criariam um filho com o salário de professor de Jonathan e o trabalho de meio período de Clara. Ela disse que me amava muito. E me deu as costas. Faz quatro anos.

A velhice não chegou para mim. Estou perto dos sessenta anos, e com pulso firme controlo tudo o que com muita dignidade levei a vida para construir. Antes de sentir essa angústia, eu cheguei a me questionar se tudo o que fiz tinha realmente valido a pena.

Agora, deitado e estático. Sendo lentamente digerido por vermes, vejo que talvez não tenha dado o meu melhor naquilo que só depois perceberia ser o que tinha de mais importante. Não me vejo em posição de lamentar ou pedir que meu fim fosse diferente. Se acaso me fosse concedido um último desejo, a última fagulha que não de arrependimento que minha vida emanaria seria talvez para aquele que cavou minha cova. Para que a cavasse um pouco mais rasa, pois assim ainda seria capaz de sentir as gotículas de chuva que enquanto pude ver, me recusei a enxergar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sobre o Tempo...

Os anos estão passando.

E ao contrário do que costumo dizer por aí, não me sinto velho e cansado. Talvez haja sim, algum resquício do antigo medo de envelhecer sem realizar algo de que me orgulhe. Mas não predomina sobre minha vontade de seguir em frente.

Promessas?

Já fiz muitas, e pude cumprir algumas.

Entre anseios, projetos e objetivos, o amor sempre esteve em primeiro plano. Algumas vezes atrelado a situações momentâneas e em muitas outras disfarçado ou até mesmo renegado. Mas sempre esteve lá.

E do meu discurso bon vivant sobrava a incerteza da vontade. A falácia sem sentido do carpe diem soava imprópria.

Exagero. Talvez.

Mas depois de muitas madrugadas frias sozinho, por mais otimista que seja, a gente começa a congelar. E chega a ficar impossível não se questionar.

Passei um bom tempo nesse estágio.

Até que me encontrasses.



terça-feira, 19 de julho de 2011

L'esprit de l'escalier

O que visualizo é ainda a pintura perfeita das mãos entrelaçadas e sussurros escondidos.

Embaçada por um duelo de egos sem fim.

Sou fraco e forte. Sou tudo e nada. E não consigo pensar em um modo sensato de exprimir essas palavras engasgadas, esse grito contido que me explode por dentro e faz faltar o ar.

Esganiçado.

Esgarçado.

Vejo-te partir, quem sabe de volta aos meus sonhos de onde nunca deveria ter saído. Quem sabe tudo continuaria perfeito e imaculado. Mácula? Nunca acreditei em pecado. E nunca quis sair ileso.

O Amor dói.

O Amor machuca.

E a gente continua socando as paredes, se entregando. Faço daquele beijo carinhoso de “até logo” suas palavras finais, ao invés das ásperas conjugações. Em devaneios sinistros me vejo desistindo. Nocauteado. Jogado à lona.

O amor é uma luta injusta. E diferentemente dos filmes de Van Damme ou Rocky Balboa, ninguém realmente vence. O gosto do não-empate é agridoce para todo o tipo de paladar. O amargo passa, mas as feridas ficam. Eu tenho uma de cada lugar em que deixei um pedaço meu até que me encontrasses um dia. Assim como tens também teus fantasmas.

Não, eu não sei lidar.

E definitivamente não sei amar.

Preciso de você.

Eu ia e vinha...

Eu ia e vinha...
... e era lá que eu me perdia, no espaço entre teus lábios.

Um travessão e uma exclamação.