Dias.
Em que me sinto assim, leve. E todas aquelas nuvens cinzentas de dúvidas acerca do presente-futuro se dissipam, bem diante dos meus olhos. Consigo olhar a vida por outras perspectivas, meu comportamento autodestrutivo, que julgava ser a única arma disponível para combater os fantasmas que insistiam em me assombrar soa apenas como um grito. E um grito contido.
Na imensidão do ser-ou-não-ser me vejo sentado atrás do painel de controle de minhas emoções, tudo bem, nem tanto, mas assumo a responsabilidade por quaisquer danos causados por minhas atitudes.
Estou sóbrio.
Sobriedade não é somente o estado em que a gente se encontra quando há ausência de álcool no organismo. É algo ao mesmo tempo palpável e etéreo. Como o amor.
Ah, o amor. Eu sempre desconfiado com relação a ele. Ele nunca confiante em relação a mim. Ou seria o contrário? Mas por que então agora? Não se sabe.
“ - É o amor-próprio, contribui.
- Sim, mas nem tanto, tem o lance da maturidade também.
- Acho que isso não conta, tem que estar aberto, eu concordo. Mas de uma maneira despretensiosa, o que faz valer à pena são os pequenos momentos.
- A vida é um pequeno momento. Já parou pra pensar na insignificância da sua existência comparada ao todo?
- Sim, eu sei que não sou o centro do universo. Nem quero ser. Mas você não está me entendendo. Na verdade nem sei o que estou tentando explicar.
- Ora, vamos ao que interessa afinal. O que vai ser pro almoço?
- Concordo, melhor questão a ser discutida sempre.”
E assim vou seguindo em meus dias preguiçosos, relativamente feliz e confiante. Com imagens de dias nublados em minha mente. Mas bons dias nublados, repletos dos tais pequenos momentos que fazem a vida valer à pena. Eu deslizo, vôo num mar de lençóis, procurando um cheiro que está impregnado em meu olfato, assim como a imagem do Anjo tatuada em minha retina nesses dias em que me sinto aquecido.
Que a sobriedade me ajude a estar aqui por nós dois, por mais alguns segundos ou pela vida inteira.