quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Olhos e Palavras.

[Ultimo(?) parágrafo]

“E é nesse momento, quando nosso espírito força ao corpo um último suspiro implorando por pouco mais deleite no delicioso cálice de humanidade, que nós percebemos que na realidade estamos todos sozinhos, de alguma maneira.”

Ludovic (título)

Sou impulsivo.

As palavras, reflexo do grito engasgado em minha garganta seca são, ainda que eu negue diversas vezes, a melhor forma de expressar aquilo que meu olhar insiste em externar sem sucesso. Ou eram.

Nos dias silenciosos, meu grito quase sempre eminente se reduz a pouco menos que sussurro e até mesmo leve silvo. O olhar que tanto se esforça em demonstrar aquilo que poucos podem perceber volta-se para dentro de mim.

A introversão como forma de resolver problemas antigos.

A introversão como forma de criar novos problemas.

Os irmãos Deixa-estar e Logo-passa me cumprimentam ironicamente. E a Rua das Ilusões se torna uma larga avenida onde camelôs banalizam vendendo sonhos. Meu coração (ou a cavidade deixada quando o perdi) me diz que algo não está certo.

Lanço-me em pensamentos de um passado nebuloso e olho o presente como quem desconfia demais do futuro.

“Não por hora” – repito ao ambulante pernicioso. “Estou sem tempo” – mente meu relógio de bolso.

Estou divagando.

Tentei explicar que as palavras perderam o senso de orientação. E faz tempo.

Que valha pela tentativa e assim ficamos.

São os dias azuis, onde toda a variação de cor dá em tons de cinza.

Procuro a paz que um dia me esteve às mãos e rejeitei em preferência de aventuras.

Meus olhos tristonhos mergulham no azul do mar que a tanto não vejo enquanto minhas narinas embargadas pelo cheiro de solidão me trazem a brisa salubre. Lembranças de antes de minha alma se partir em pedaços.

Dizem que no fim da vida a gente fica assim, meio bucólico. Morrerei jovem porque penso que de morrer a juventude não tem medo.

Decisões a serem tomadas.

São as atitudes que tomamos que escrevem as melodias das canções que cantamos durante a vida.

Paz e bem.

M, fique bem logo. Preciso de você comigo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Noite.

Em meio ao leve desfoque nas imagens à minha frente, sinto a mão fria percorrer meus ombros nus. Sua fala parece atravessada e a única coisa que prende minha atenção ao que ela diz, é o fato de sua voz embriagada vomitar algumas poucas palavras sem sentido juntamente com a abundante saliva que insiste em procurar meu rosto. Ela me abraça forte e o cheiro de nicotina invade meus pulmões, fazendo com que meu estômago se revire como um insone às duas da madrugada.

- Eu te amo, e quero passar a eternidade ao seu lado.
A eternidade para elase estende a algumas horas de sexo e diversão.

Não consigo reagir, espero um impulso que comande a fuga para longe desse inferno.
A batida da música ao longe entra em meus pulmões sufocados, e as imagens sem cor me levam a uma longa e monstruosa viagem para as cavernas do não-ser.
Eu não deveria estar ali, e essa cama parece grande demais para se estar com uma garota que eu no momento não consigo lembrar o nome.

Quando isso tudo começou? Não faz diferença. A última coisa de que me lembro são das palavras que penetraram minha alma como o frio do inverno e rasgaram meus pensamentos como a crosta primitiva da Terra em constante erupção: “Nunca te amei”.

E o teto gira.

Entrego-me aos carinhos de outra mulher. E me lembro do tempo em que era apenas um garoto, com dúvidas e certezas, dançando sempre no território do incerto e com o agora latente instinto autodestrutivo amenizado por uma vida bucólica e absolutamente incrível.

Sou eu, diante de mim no espelho, quando acordo com ressaca. É preciso encarar a luz do dia.
É cedo demais, e a cidade deve estar ocupada dormindo. Caminho mais uma vez perdido, mesmo sabendo que ela seria angústia desde o momento em que a escolhi, sinto que não posso voltar atrás.

domingo, 2 de janeiro de 2011

AsSóis

O menino cresce ao se ver nu no sol de meio-dia.
E sabe que fugir suscitará a cólera da areia movediça.
A ampulheta desconhece o tempo,
e a verdade mata para dar exemplo.

O menino corre nu, para se ver livre do sol assombroso que cresce diante de si.
E ao meio dia, bruxas e monstros assombram a paisagem.

Daqui de longe, nada posso fazer.
A não ser observar,

o menino a correr

Até que anoiteça.

Foto e Fato

Caminho novamente pelas ruas de minha juventude. Tudo era tão mais fresco e menos contundentes eram as atitudes que eu repetia, quase mecanicamente. Em clima de tranqüilidade, relembro tardes bonitas e momentos singelos, onde eu me entregava profundamente ao ser-eu-mesmo, e despercebidas passavam as exigências da sociedade diante de mim. Alguns momentos que se eternizariam em minha memória, passam diante de meus olhos, no contínuo movimento do tempo. Sou jovem, ainda que as mudanças que a condição humana me obrigou a superar tentem me dizer o contrário.

Em ritmo lento me deixo mergulhar deliciosamente em boas lembranças, um círculo de Camaradas D’Água me puxa para cantar a plenos pulmões a alegria de viver, e em um canto, mas não em lugar menos importante, dessa cena em particular observo um Sorriso. O Sorriso discreto que mudaria minha percepção, e me acompanharia em diversos altos e baixos na trajetória chamada vida.

Minha musa. Tal qual Érato me olha com olhos serenos e ao mesmo tempo perscrutadores. Não há reação além do dilúvio de enzimas que invade meu corpo. A loucura seria não amá-la. Além de toda idealização que minha mente jamais fora capaz de criar. Era humana. E como todos os humanos, um dia decidiu partir.

Mas me deixou o sorriso sereno como lembrança e a virtude de mulher como lição.

Dos muitos erros que cometi, foi ela a quem mais fiz sofrer. Covardia.

Minha caminhada leve de fim de tarde não acaba por aí, eu e ele (O Sorriso), passamos por outras belas esquinas onde um dia a foto foi fato, e o partir não passava de boato.

Meu coração mendigo de poeta tende a multiplicar as sensações, mas me lembro claramente de algumas tardes jogando bola com minha cadela escudeira, Minína, e o berro vigoroso de minha Avó anunciando o almoço.

“Saudosismo de velho”, me diz o sorriso parado ao meu lado nesse momento. E eu refuto com o já batido argumento da repressão causada pela Selva de Pedra. Não mais voltaria no tempo, pois sei que em algum lugar dentro de mim, essas lembranças são realidade, e estão lá para me manter equilibrado.

“A linha entre o prazer e a dependência” tão fácil de ser ultrapassada por nós, meros mortais com instinto auto-destrutivo.

Num vôo silencioso, meus lábios tocam os rosados lábios risonhos, e de mãos dadas vamos além da matéria, mergulhando no infinito etéreo do amor...

...penso se já não é hora de deixar o cálice de vinho e ir de fato fazer uma visita ao Sonhar.

Toda a poesia é válida como forma de Redenção. Todo o Amor é válido como fórmula de verdade. Uma vida não é o suficiente para amar e ser amado. O infinito não é tão extenso quanto os diversos finitos que carregamos em nossas almas.

Paz.

Eu ia e vinha...

Eu ia e vinha...
... e era lá que eu me perdia, no espaço entre teus lábios.

Um travessão e uma exclamação.